terça-feira, 22 de março de 2011

Consumismo x Satisfação



 
    Em toda a história das sociedades nunca se viu uma apologia pelo “ter” como se vê em nossos dias, a cada década que passa o homem torna-se mais compulsivamente possuidor.
    Uma pessoa consome hoje o que sustentaria, pelo menos, três pessoas há alguns anos atrás (estatística pessoal), provando assim que o homem hodierno não encontra satisfação naquilo que possui, é como se fosse um abismo sem fim e por mais que se tente preenchê-lo nunca haverá o suficiente.
    Entendo que o problema esta na confusão que se faz no sentido da palavra satisfação, ou seja, a maioria entende que satisfazer-se é possuir até “estourar”, como quem come demais aquele prato que mais aprecia. Satisfação é o oposto disso, é viver bem com a dose normal das coisas sem precisar de excessos e isto só é possível quando nos tornamos possuidores de tudo o que temos e não o contrario porque quando somos possuídos pelo que temos nos transformamos em feras insaciáveis e sem controle.
    Ensinar a sociedade a tornar-se satisfazível é tão desafiador que poucos segmentos significativos usam esta temática em suas campanhas e manifestações, tão pouco as igrejas contemporâneas o fazem, pelo contrario conservam fileiras de “fieis” insatisfeitos e conseqüentemente consumistas.
    Em 2009 passei por uma situação que me marcou, meu refrigerador é um pouco antigo e já bem usado, o que contribuiu para que o suporte da porta enferrujasse fazendo com que ela quase caísse algumas vezes. Um refrigerador novo seria a solução mais viável deste problema, mas como não foi possível inverti o posicionamento da porta fazendo com que ela abrisse pelo lado contrario, ou seja, da direita para a esquerda. Minha filha que tinha quatro anos de idade não sabia do meu “jeitinho”, então propositalmente pedi que ela buscasse um copo com água e logicamente ela não conseguiu abrir o refrigerador. Após rir um pouco com a cena mostrei a ela como deveria abrir daquele dia em diante, da direita para a esquerda, ela fixou os olhinhos no refrigerador por alguns segundos depois se virou para mim e disse algo inesperado que me fez chorar, “eu achei lindo” foram suas palavras. Não importava se a porta agora se abriria pelo lado contrario, ela ainda estava lá e funcionando, na sua inocência infantil lembrei-me que há tempos atrás tudo era mais simples e satisfatório.
    Não quero ser mal interpretado, não sou contra a troca de eletrodomésticos ou de quaisquer objetos enquanto ainda ativos, mesmo que recondicionados, ainda tenho que trocar o meu refrigerador e sei que não durará para sempre, mas o que quero dizer é que como uma criança se satisfaz vendo as coisas de um modo simples e confiando no que os pais fazem assim também devemos ser satisfeitos com as coisas simples feitas por Deus, porque isto é confiar na Sua providência.

Texto de Sandro Veiga da Silva, seminarista Presbiteriano